quinta-feira, 26 de maio de 2011

O que não tem nome, remediado está

Às dores que não têm nome, que não cabem no peito, que se impõem soberanas diante de uma frágil alma...
Aos medos que não têm nome, que se fantasmagorizam no imaginário, por vezes não tão flutuante assim.  Reais, ilusórios, grandes, simbólicos, insubestimáveis, por cautela!...
Às angústias que não têm nome, indecifráveis e antigas conhecidas, que espremem um coração, que deixa de respirar pra permanecer batendo. Máximo esforço, mínima atividade. Eis a angústia de não saber o que se passa...
Aos vazios que não têm nome, fartos pelas faltas, cheios de nadas... hiatos, desejos, sonhos, escuros, cores e buracos.  São nomes que não nomeiam, pontos que não apontam, setas que perfuram sem direcionar...
Às desestruturas que não têm nome, aos despedaços perdidos ao léu... linhas e letras que não mais aderem, não conseguem (re)significar....
O papel tudo aceita, a vida não.  O silêncio clama um novo sentir, novas linhas escritas. Outras, não mais estas, .... não hoje, talvez num amanhã que ainda não tem nome...

domingo, 22 de maio de 2011

O último passo





Sempre muito elogiada, a pequena bailarina se uniu às grandes sombras dançantes. Aula sim, e sim, o pas de bourrée se tornou sua reza burra. Amava o movimento, que bailava sua alma ao encontro de si consigo. O reflexo dos movimentos lhe trazia dor e regozijo, o suor de seu corpo lhe fazia sentir que viver era tão somente aquilo. Executava battement em harmonia com as batidas do tempo. Era a bailarina dos espetáculos cheios, dos palcos sem plateia, dos aplausos e gritos mudos. Lançou-se ao desafio de encarar o pas de deux com um padre fantasma. Logo ela, sempre tão fiel à sua reza burra! Um passo além do que poderia suportar. Fato. Fatal. Desequilibrou-se por medo. Caiu. Fragmentou-se em incontáveis partes cinzas, rosas, vermelhas, incolores. No breu que lhe impedia a imprecisão dos passos, um frágil brio indicava-lhe o novo agir. Com as sapatilhas desgastadas e sujas nas mãos, viu-se a bailarina pela última vez...