sábado, 5 de novembro de 2011

O não – lugar


Casulos que não geram borboletas, o que tanto protegem?
O medo da dor de não ser amor; um não-amor que ocupa todos os lugares vazios; um amor preso nas lembranças que nunca foram, mas foram embora.
O medo de voar esconde quedas e feridas de antigos voos.
As algemas me fazem gemer no escuro, por aquilo que um dia desejei, mas despejei no tempo, no espaço de um tempo, hoje, sem lugar.
Espremo a esperança e a ilusão que me falseia a realidade. Sobra espaço, mas não há lugar para trazer de volta, o que por ora se perdeu em longas horas de espera.
Espero, desespero e no mesmo ato, desato o que é falho. Mentira, que finjo ser verdade. Mando embora de mim no exato instante em que imploro pra que não demore a voltar.
Não mais arrisco e assumo o risco de perder as chances de um vir-a-ser, que se fosse, já haveria sido.
E o que me resta é o não – lugar de uma alma descabida, que jogou fora tudo o que fora aprisionado.
Num único grito, engulo a chave. Um dia a vomito.
Um dia aprendo a rir da dor que me desfaz e a faço sofrer no meu lugar, no não-lugar que lhe compete.
Como uma borboleta que vive sem asas, oriunda de um casulo vazio, sem lugar.