quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Dos contos sem fadas




Era uma vez uma história que nunca (me) aconteceu.
Era uma vez uma história que nunca (te) aconteceu.
Era uma vez o que nunca foi mesmo.

Era uma outra vez tantas histórias não acontecidas.
Eram tantas vezes, foram tantas histórias, que o não acontecido virou desejo para sempre.
Era uma vez o que foi para sempre.
E foi para sempre o que uma vez era infinito.
E foi uma vez que o para sempre virou saudade.
Do que nunca aconteceu, do que foi e não é mais, do que permanece sendo.
Era uma vez o que a saudade não dá conta de dizer...
Porque a saudade, por ser saudade, sempre será uma vez. Única.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

( . . . . . . . . . . )




A palavra é vazia para quem sente demais; é maldita para quem tem sede de dizer o impossível.
Palavra é a falta daquilo que sobra em algum lugar. É o conflito de querer alcançar a perfeição daquilo que, por essência, é falha.
Nas tentativas, o medo paralisante. Um quase fim da linha cheio de linhas vazias, palavras soltas e pensamentos condenados à prisão.
Nos gritos que gritam por dentro, algumas lágrimas que silenciam pra fora.
(...)
Tanto a dizer, tanto o que sentir a partir da fala, que troco o lugar da palavra pelo sentimento de não saber o que dizer.
Alívio é não saber o que dizer, angústia é não conseguir dizer aquilo que se sabe.
De quantas angústias vive um coração falante? De quantas grades e cadeados vive um coração obrigado a emudecer?
Existência doentia de uma fala sem voz.
Estou na ausência daquilo que me consome em excesso. Minhas páginas em branco.
(...)
Não gosto de ficar sozinha com os meus silêncios que não dizem nada, mas também não quero ficar no meio de palavras que só me trazem solidão.
Não gosto de viver nesse mundo cheio de porta-vozes e vazio de palavras que representam.
Cansei de representar personagens que não me consagram vida.
Cansei de viver sem poder dizer.
Cansei de ser obrigada a falar e esconder o que foi dito.
Cansei do que não sei e sou obrigada a ter que saber.
Cansei de tentar aprender um pouco mais, para saber ainda menos.
Cansei de não saber concluir o que me propus iniciar.
(...)
Estou cansada e não era nada disso o que eu queria dizer, se é que queria dizer algo.
Chega.