domingo, 22 de maio de 2011

O último passo





Sempre muito elogiada, a pequena bailarina se uniu às grandes sombras dançantes. Aula sim, e sim, o pas de bourrée se tornou sua reza burra. Amava o movimento, que bailava sua alma ao encontro de si consigo. O reflexo dos movimentos lhe trazia dor e regozijo, o suor de seu corpo lhe fazia sentir que viver era tão somente aquilo. Executava battement em harmonia com as batidas do tempo. Era a bailarina dos espetáculos cheios, dos palcos sem plateia, dos aplausos e gritos mudos. Lançou-se ao desafio de encarar o pas de deux com um padre fantasma. Logo ela, sempre tão fiel à sua reza burra! Um passo além do que poderia suportar. Fato. Fatal. Desequilibrou-se por medo. Caiu. Fragmentou-se em incontáveis partes cinzas, rosas, vermelhas, incolores. No breu que lhe impedia a imprecisão dos passos, um frágil brio indicava-lhe o novo agir. Com as sapatilhas desgastadas e sujas nas mãos, viu-se a bailarina pela última vez...

2 comentários:

Leonel disse...

Talvez, eu esteja mais com as minhas mãos desgastadas, de tanto tentar talhar um eu que nunca se completa. Parabéns pelo blog. Gostei muito de tuas palavras ao topo, embora isso possa soar como um comentário padronizado.

Abraço do Leonel.

Bel disse...

... Eterna bailarina...

Bjosss no coração...

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