sexta-feira, 1 de julho de 2011

Absinto

Só sei que nada sinto! Sinto o nada. Só.
Às vezes, tenho a sensação de que viver é mais do que posso, de que a dor sentida é mais do que suporto sentir.
Quando tudo se esvai, o mar desemboca no rio, que sucumbe por não suportar sua densidade. Doce alma, salgada desalma. Um nada cheio de tudo, um todo ausente, silente. Mar morto.
Pudera minhas lágrimas traduzir em palavras a dor que me rasga o dentro, muito embora eu desconheça palavras que correspondam com exatidão às dores. Na verdade, nem sei se existe algo que expurgue a dor de um coração.
Uma das provas de que Deus não nos fez, está na ausência de portas em nossos corações.  - Me faça sofrer e eu lhe fecho a porta! Diante da dor, eu fecho a porta. Divino seria, humana sou.
No desespero de sentir, espero a dor partir. “Tout va passer” soa como um mantra.
Não tenho medo do abismo. Conheço bem suas ruas e esquinas escuras. O que me amedronta é a zona do meio, esse mal-estar cujo frisson letárgico me antecipa a sensação de morte.
Estar viva sem viver, existir pela metade. Existência hiata, inata a quem respira vazios e angústias. Nós que não se desatam. Eu, você, nós!
Linhas que não mais se cruzam. Restos de retas arestas!
No mínimo do que sou, a minha máxima intensidade.
Sepultados ontens, ressuscitados no amanhã, com instantes de saudades distantes.
Um ponto. De encontro. – reencontro. O ponto de partida, que me arrepia a alma e faz com que eu sinta, que absinto.

8 comentários:

Talita Prates disse...

Nanda,
ouso dizer (posso? rs) que foi o melhor texto seu que já li.
Escreveu hoje? Conseguiu (se) parir?

Nem tenho o que acrescentar depois de tudo que já foi dito por você.
Só sei que me tocou muito, porque me escreve.
Só sei que absentimos.

Bjo,

Talita

Nanda Melo disse...

Absinto um suspiro.... e, diante do ontem, preciso agradecê-la, Ta, novamente pela atenção com as minhas crises e dores de um pré-parto. Se consegui (me) parir, eu não sei, mas tentei "para ir" além da minha zona do meio. Foi melhor, aliviou. Hoje, me sinto salva. Amanhã, eu já não sei. Ontem eu morri. Hoje eu voltei. Um bjo e outros.

Fernando Lago disse...

"Ali tão certo e justo e só te sendo
Absinto-me de ti, mas sempre vivo..."
(Lula Queiroga e Pedro Luis)

Lindo (e lido) texto, Nanda!

Nanda Melo disse...

Que honra a sua visita, Nando! Obrigada pela citação. :)

Bel disse...

Nandaaa...
Uauuuu... fiquei sem palavras...
Incrível como qd leio seus textos me vem primeiramente uma palavra: i n t e n s i d a d e...
Ler o que você escreve me toca profundamente...
Obrigada pela partilha sempre!
Escreve um livro????
Seria ótimo!!!
Enorme abraço com muito carinho!

Fabrício Franco disse...

Vim, seguindo o rastro de sua visita ao Logomaquia. E em que bonitas paragens vim dar! Agradeço por me atiçar a curiosidade e por me presentear com textos, aqui lidos, tão bons.

P.S.: Seu 'about me' é lindo.

Anônimo disse...

Maravilhosamente intenso!!!! De tirar o fôlego Nildinha...........
Bjs,
Bu.

Carina B. disse...

Nanda,
ouvi esses dias que livros são máquinas de fazer sentir. Os teus textos, pra mim, são exatamente isso. Impossível ler-te sem ser profundamente tocada.
Beijos!

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