Nunca escrevi um texto bonito, sem tristeza. Nunca.
Não sou triste o tempo todo, mas a minha escrita, se é que posso chamá-la assim,
é. E é, porque escrevo o que sinto e não consigo dizer. Traduzo em palavras o
que a fala finge não dar conta. (...).
Tentei muitas vezes descrever momentos de alegria ou
trazer para o papel os belos sentimentos que conheço, mas é sempre a melancolia
que passa por entre as palavras e prepondera no que tento escrever.
Admiro tanto as pessoas que sabem desenhar lugares
onde não comportam as dores da alma! É lindo ler poesias que enobrecem a
existência, que exaltam os sentidos e possibilidades.
Mas, nas flores que toco, os espinhos me ferem; os
sorrisos espremem lágrimas; o coração bate e me espanca por dentro.
Ainda assim, eu queria escrever um texto agradável de
ser lido.
Queria amanhecer e acordar de um sonho real. E poder
sentir no primeiro abraço, o primeiro amor sem dor. E ao sorrir, agradecer
pelas cócegas na alma envolvida pelo afeto. E olhar por dentro e não ver
vazios. Penetrar sem invadir. Olhar no escuro e enxergar a luz. Viver o dia sem
morrer um dia. Que a eternidade não fosse meramente um sonho de quem deseja
nunca se despedir de quem ama.
Bela é a presença que atravessa o presente. O afeto
que afeta sem deixar cicatrizes.
Sentir saudade de uma presença entrelaçada ao corpo,
que ao partir, o leve consigo.
Queria desejar todos os dias. E em cada desejo, lutar
pelo que acredito. Queria crer na intensidade da dúvida. Queria saber levar
minha alma pra dançar, como tanto fiz durante treze anos dançando ballet.
O corpo flui, a alma fica. Fica na pausa do tempo, que
congela movimentos densos de uma alma (in)tensa.
Sonho em descobrir a beleza que se oculta nos
conflitos; sentir a alegria salvífica de uma lágrima sincera; resgatar pessoas
e passados, ainda que impossíveis. Sonho com o impossível, com a felicidade impossível;
com o sonho de que o impossível é tão somente a realidade a ser perquirida.
Desejo muito o que em sonhos, eu já consegui. (...)...
Desejo muito o que em sonhos, eu já consegui. (...)...
Sonhar demais me assusta. Desejar de menos também.
Entre um e outro, o (des)equilíbrio. Talvez por isso
eu não saiba escrever um texto feliz.
13 comentários:
Nanda,
Acho que não podemos supervalorizar a tristeza, mas quem não conhece sua face também não pode entender a beleza da dita felicidade.
Eu acho seus textos lindos, independente do tema. A lindeza está na profundidade, por vir lá de dentro, por serem palavras que estavam caladas.
Libertar esse aperto, não conheço nada mais assustador ou raro.
Claro, escrever cobra seu preço ... sempre cobra.
Eu leio e vou continuar lendo, para ficar assustada, encantada, intrigada.
Para que seus textos sussurrem aos meus fantasmas.
Um beijo
Te entendo, Nanda. Muitas vezes quero escrever algo alegre, mas parece que a tristeza sempre vence essa batalha. Mas quem disse que a tristeza não é poesia? Bjus
Mar
Nanda,
Antes, bem lá no meu início com as letras, eu achava que a equação tristeza + escrita = beleza. E é meio assim mesmo, as grandes canções de amor foram motivadas pelo romper da relação; os poemas mais plangentes parecem tocar-nos mais profundamente. Contudo, hoje vejo que isso é porque fomos (cultural ou geneticamente) talhados para erigir altares para a tristeza, enquanto a alegria é vivida às ruas, livremente, como algo 'normal', não santificado. Não rimos em velórios (ou não devíamos rir, embora eu tenha ido a alguns onde as piadas rolam soltas). Rimos, gratuitos e vazios, por qualquer chiste...
Se é para o 'sagrado' da escrita onde você ruma, que assim seja. Mas espero, sincera e carinhosamente, que você não vista a mortalha do 'eu poético': esse deve ficar circunscrito às margens do que você escrever.
Beijo!
'Que a eternidade não fosse meramente um sonho de quem deseja nunca se despedir de quem ama.'
E poucos conseguem falar da tristeza de forma tão linda.
Que lindeza de texto, Nanda.
Sou tua fã.
Saiba que teus textos, independente do tema, são muito agradáveis para serem lidos! De verdade!
Beijos, Heloisa
@hls_heloisa
Dizem que os poetas são tristes. Ainda que uma alegria momentânea permeia em seus escritos (brevemente), sempre serão tristes... Me identifiquei com os teus dizeres. Tua melancolia é revestida de sinceros significados, por isso se torna tão bela. Penso que a alegria por ser tão eufórica e por vezes à flor da pele, não nos causa motivo pra expressá-la em palavras. Não são profundas como a tristeza; apenas a sentimos... Faça o seguinte, viva com intensidade as alegrias e quando a melancolia fazer morada, nos presenteie com teus textos ricamente inspiradores. Agradecemos !
Nanda,
Escrever é uma forma de revelar aquilo que nos falta, de transbordar o que nos afeta.
É ter o olhar carregado de alma.
O derramar das palavras no papel é sempre uma forma de encontro conosco e com o outro.
Vejo a melancolia como o horizonte da palavra que encontra pelo caminho algumas gotas de felicidade.
Bjos
Nanda Mello, vale apena recorrer os sentimentos mais profundos de sua alma. Falar o que sentimos é isso. Não é inventar um lugar bonito cheio de sonhos imaginários onde nada é real. Ou cria uma paisagem sendo assim irreal. O coração mora nos esconderijo onde a alma estar. Nossa alma se aloja na profundezas mais lindas. O que sentimos mostramos de forma que encanta. Não é melancolia para os que sabe reconhecer onde a palavra se encontra. Não é fantasia ser realista. Ser sincera. Falar o que sente. Apenas devemos toma cuidado com as palavras que pode causar ao outro uma impressão errada. Nem todo mundo pode entender. O blog, twitter, e outros mais, por ser um espaço público...
Mas deixe o seu coração falar. Porém, é as nossas mãos e nossos dedos quem escrevem. Há sempre uma correção, uma revisão do que vamos deixar. Por isso não se apresse tanto, deixe vir, comece trabalhando o seu pensamento antes de ir fazer a postagem. Há um tempo para todas as coisas. Nem tudo aceite...
Particularmente Nanda eu adoro escrever. Há dias que sou rápida. Porque esse dia estou bem comigo mesma e com os meus pensamentos. Mais há dias que nem eu mesma me aguento. Esse dia eu esqueço lápis e papeis. Não entro no rascunho... Prefiro o que me faz bem. Até antes mesmo de pensar que vai fazer bem ou mal a alguém. Sei do dom da sensibilidade. Do sentir. Do receber o que o outro ler. E outras tantas sensibilidades que todos nós podemos ter...
Gosto sempre de ter em mão um simples caderninho. Deixo ele a minha disposição. Sempre que me vem algo bom de mim eu vou rascunhando. Na música que ouço. No silencio que estou. Há momentos que nós precisamos de silencio. De paz. Mas outros dias que nem o silencio e nem a música nos faz bem. E a vida. É assim que vivemos. Mas a gente chega lá. Vai aprendendo aos poucos...
Quero te pedir desculpa por uma coisa. Desculpe Nanda por eu ter escrito no twitter do padre Fábio de Melo que eu não gostava de você. Mas eu não expliquei a ele o porque. E também não gostaria de citar para você se você mesma já disse o que eu precisava saber de você e de mais ninguém. Lendo o que você escreveu nessa postagem me encantei com a beleza de suas palavras sendo tão sincera. Mil desculpas do fundo desse meu coração.
E que Deus te abençoe! E fique sempre na companhia do amor de Jesus...
Abraços,
Francisca Martins Santiago.
a beleza está também nos cantos mais escuros, onde acreditamos não haver...
a beleza é o que se sente.
suas palavras são sentidas. certamente.
suas palavras me cortam, me sangram, me dóem, dizem de mim também.
e eu que tenho um lado masoquista (só pode!) também me doo em tudo o que vivo.
e eu que vejo tristeza em tudo, também vejo beleza na feiura, na solidão, na rejeição, no cinza.
obrigada por escrever, Nanda.
Alguma melancolia faz bem...
Beijo,
Doce de Lira
"Nunca escrevi um texto bonito" <- Um belo exemplo de contradição, levando em conta os escritos maravilhosos que acabei de ler ♥
@qualsabrina
Me identifiquei muito em suas palavras. Eu tb até hj acho que nunca escrevi um texto alegre... Somos mais sensíveis e vamos mt além qd a melancolia estrava junto com a inspiração.
Abraço
Fernanda.
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