Não há dor maior que a dor da impossibilidade de um
coração, que sonhou com o céu de outra alma, que viajou por mundos e derrubou
muros para estar perto. Sonhou sozinho uma realidade acompanhada. Um coração de
partidas, idas e vindas trazendo o outro. Viajante, mas seguro do ponto de
encontro: o tão sonhado e desejado (outro) coração*.
Viver da ilusão de tornar possível o impossível foi o
desafio constante de manter viva a esperança. Tantas vezes pareceu haver
escutado respostas; tantas outras pensou haver entendido sinais. Eram ecos
ilusórios, miragens que se vê quando se atravessa os desertos da alma.
Cedo ou tarde a realidade seria deflagrada.
O coração chora lágrimas que desembocam num mar. Morto.
Acabou a vida dos sonhos. Bem me avisara o luto que tanto neguei. Difícil pensar num esvaziamento, numa ruptura
de algo que se tornou parte da essência de um todo.
Nas lágrimas, todo o não dito, escrito, vivido. Densas
lágrimas correm pelo rosto triste de quem, logo mais, terá que sorrir.
O coração está morto e, hoje, chora todas as suas
mortes. Sem fim.
* Um outro coração pessoal; o outro coração do outro? Eu não sei.
5 comentários:
eu... fiquei pensando que...
...
que eu me lembro de você falar do "prejuízo" que uma "relutância ao luto" causa (não sei se você se lembra, mas eu sim...), e era isso que eu sentia e era sobre isso que eu tentei várias vezes escrever mas não consegui (certamente porque eu relutava o luto... mal sabia que a luta contra o luto é perdida).
...
que existem formas de morrer-em-si-o-que-precisa-ser-"morrido" sem que, pra isso, se precise morrer de fato. "E vê: ainda vive. Senão intacta, ainda íntegra." Íntegra porque, o que me coube, eu vivi...
o fato é que eu já morri tantas vezes e ainda continuo viva...
eu queria dizer tanta coisa aqui que não estou conseguindo.
enfim.
vencida, despeço-me.
beijo, Nan.
Já li tantas vezes esse texto, mas não consigo comentar. Talvez pq não tenho palavras para descrever o que sinto toda vez que leio.
Bjus
Hoje pensei na história de um amor que morreu e ressuscitou, pensei na possibilidade da ressurreição tornar algo imortal, no entanto, conceder o dom de morrer. Concluí que o amor não morre, ele se transforma, muda, amor é como borboletas, mas os amores, são como rochas que se desfragmentam. Quanto à matéria? Permanece imutável.
Hoje o mar me lembrou das suas lágrimas e notei que elas batiam contra o seu coração como fortes ondas.
Hoje chorei as lágrimas do seu luto pela minha morte, fui alma penando sobre o esquecimento.
O amor não morre, amor. Mas os amores, esses são inanimados. E o que seja eterno enquanto dure, não é a conjugação perfeita do amor sempiterno.
Um beijo,
@Despoesia
"O amor nunca morre de morte natural. Ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições. Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho".
[Anais Nin]
Eu pensei em todas as coisas que poderia escrever aqui desde que li esse texto, que não é apenas um texto, mas uma das mais fortes celebrações à [i]mortalidade de um verdadeiro sentimento... e, no entanto, não encontrei palavras capazes de traduzir o que sinto.
Obrigada por mais um texto maravilhoso, Nanda. Obrigada.
Cada dia que passei seus textos tem ganhado intensidade e uma maturidade tão bonita. Não sei nem o que comentar.
Abraço.
Fer.
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