terça-feira, 20 de março de 2012

Re-luto o real





Não há dor maior que a dor da impossibilidade de um coração, que sonhou com o céu de outra alma, que viajou por mundos e derrubou muros para estar perto. Sonhou sozinho uma realidade acompanhada. Um coração de partidas, idas e vindas trazendo o outro. Viajante, mas seguro do ponto de encontro: o tão sonhado e desejado (outro) coração*.
Viver da ilusão de tornar possível o impossível foi o desafio constante de manter viva a esperança. Tantas vezes pareceu haver escutado respostas; tantas outras pensou haver entendido sinais. Eram ecos ilusórios, miragens que se vê quando se atravessa os desertos da alma.
Cedo ou tarde a realidade seria deflagrada.
O coração chora lágrimas que desembocam num mar. Morto. Acabou a vida dos sonhos. Bem me avisara o luto que tanto neguei.  Difícil pensar num esvaziamento, numa ruptura de algo que se tornou parte da essência de um todo.
Nas lágrimas, todo o não dito, escrito, vivido. Densas lágrimas correm pelo rosto triste de quem, logo mais, terá que sorrir.
O coração está morto e, hoje, chora todas as suas mortes. Sem fim.


* Um outro coração pessoal; o outro coração do outro? Eu não sei.

5 comentários:

Talita Prates disse...

eu... fiquei pensando que...
...
que eu me lembro de você falar do "prejuízo" que uma "relutância ao luto" causa (não sei se você se lembra, mas eu sim...), e era isso que eu sentia e era sobre isso que eu tentei várias vezes escrever mas não consegui (certamente porque eu relutava o luto... mal sabia que a luta contra o luto é perdida).
...
que existem formas de morrer-em-si-o-que-precisa-ser-"morrido" sem que, pra isso, se precise morrer de fato. "E vê: ainda vive. Senão intacta, ainda íntegra." Íntegra porque, o que me coube, eu vivi...
o fato é que eu já morri tantas vezes e ainda continuo viva...

eu queria dizer tanta coisa aqui que não estou conseguindo.
enfim.
vencida, despeço-me.

beijo, Nan.

Anônimo disse...

Já li tantas vezes esse texto, mas não consigo comentar. Talvez pq não tenho palavras para descrever o que sinto toda vez que leio.

Bjus

Anônimo disse...

Hoje pensei na história de um amor que morreu e ressuscitou, pensei na possibilidade da ressurreição tornar algo imortal, no entanto, conceder o dom de morrer. Concluí que o amor não morre, ele se transforma, muda, amor é como borboletas, mas os amores, são como rochas que se desfragmentam. Quanto à matéria? Permanece imutável.

Hoje o mar me lembrou das suas lágrimas e notei que elas batiam contra o seu coração como fortes ondas.

Hoje chorei as lágrimas do seu luto pela minha morte, fui alma penando sobre o esquecimento.


O amor não morre, amor. Mas os amores, esses são inanimados. E o que seja eterno enquanto dure, não é a conjugação perfeita do amor sempiterno.

Um beijo,

@Despoesia

Ayanne Sobral disse...

"O amor nunca morre de morte natural. Ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições. Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho".
[Anais Nin]

Eu pensei em todas as coisas que poderia escrever aqui desde que li esse texto, que não é apenas um texto, mas uma das mais fortes celebrações à [i]mortalidade de um verdadeiro sentimento... e, no entanto, não encontrei palavras capazes de traduzir o que sinto.

Obrigada por mais um texto maravilhoso, Nanda. Obrigada.

Fernanda Fraga disse...

Cada dia que passei seus textos tem ganhado intensidade e uma maturidade tão bonita. Não sei nem o que comentar.
Abraço.
Fer.

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