Como lidar com os olhos
que só enxergam a opressão? Excessos de realidade? Acessos à existência
imaginária de uma ilusão excessivamente real?
E quando se acredita em
um abismo imenso, mas que pode não ser tão grande assim? Apega-se à
possibilidade (sem garantia alguma) de encontro com a dúvida?
E quando a vontade de
morrer é maior que a de respirar, vale a covardia de não prender a respiração?
Como lidar com os
choros que não acontecem? Inundam por dentro até o limite de não mais conseguir
parar de chorar?
Lágrimas áridas sempre
permeiam existências desérticas.
Um oásis de mortes
específicas para quem não deseja sucumbir.
E quando a solidão é
uma das maiores dores, mas você se fecha, enclausura e impede o acesso dos que
gostam de você, ou os agride até se afastarem? Quer ou não quer cia.? Quer, mas
expulsa? Não quer, mas pede colo?
Não é nada, tudo é
muito pouco. Nem um nem (o) outro. O que fica.
Transbordos indicam o
caminho de uma existência que vai além. Do limite à borda. Além da borda.
Compassos harmonizam o
tempo à lógica do efêmero. Descompassos agridem a melodia da história. A alma
canta o que a narrativa da vida faz questão de ferir.
O tempo não permanece.
Permaneçamos nós.
O caminho é estreito. A
alma engorda com o tempo.
Algum dia não haverá
mais para onde correr, tampouco passar, sentir, insistir, desistir. Será o fim.
Do que foi bom. Do que é caos. Da (v)ida.
7 comentários:
Incrível como você volta pra cá e escreve exatamente sobre como estou me sentindo.
Só tenho a agradecer por saber que não sou sozinha.
Obrigada pelas palavras, Nanda!
Caos da (v)ida, vá.
(V)ida muitas vezes dolorida, deixa a alma sangrando toda vez que o mundo alonga distâncias, que a dor vira lágrima, quando temos que aprender a navegar no (a)mar, sem naufragar.
Fazer do breu, luz! Alçar voos que não desatem os laços que nos esperam do outro lado da margem.
Obrigada Nanda!!
Bjos
Nanda,
transbordar é engordar a alma e ter que enfiá-la em caminhos que não a acomodam. Sorte a nossa. Porque é da alma não-acomodada que surge a escrita, é o transbordar que nos dá as tuas palavras. Sorte a nossa.
Parabéns pelo texto lindo.
Um beijo.
A alma segue obesa com o arrastar do tempo ou sua corrida maluca. Estufada de dor, medo, cansaço, sorrisos, ilusões, paixões e coisas inominadas.
- Dói.
Mas que triste deve ser ter uma alma magra.
Bom ler você novamente.
Um beijo e todo meu carinho alma inchada e também leve feito bailarina.
Texto, devolva minhas palavras! ♥
Sou à favor da máxima de Tom Jobim - é impossível ser feliz sozinho. No fundo, todos queremos e necessitamos de companhia. Enclausurar-se não põe fim aos acontecimentos do cotidiano. Pelo contrário: só o amadurecimento nos renova.
Abraços!
Me identifiquei muito com todo o texto mas principalmente com este trecho:
"E quando a solidão é uma das maiores dores, mas você se fecha, enclausura e impede o acesso dos que gostam de você, ou os agride até se afastarem? Quer ou não quer cia.? Quer, mas expulsa? Não quer, mas pede colo?"
Este querer e não querer. Pedir colo ou ficar a espera de quem reconheça essa nossa necessidade/prioridade sem ao menos pedirmos (em palavras) porque os gestos (ou a falta deles) mostram isso.
Quem é capaz de enxergar em nossas ausências um pedido de socorro? Uma respiro pra alma que só quem nos ama sabe trazer. E ouvir nossos silêncios mais que gritantes?
Quem estar disposto a esse esforço?
Penso que a alma se torna obesa é por se alimentar demasiadamente de expectativas quase sempre frustantes.
Minha alma pesa mais que eu neste momento.
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